sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Oi mãe, faz um mês. A casa continua do mesmo jeito que a senhora deixou, mas eu mudei o armário das panelas, porque acho mais cômodo ali debaixo do armário da pia. A reforma nunca acabou pra variar, e eu aprendi a lavar banheiro. A senhora tinha razão, na necessidade a gente aprende. Sinto muito a sua falta, Theo também. Aprendi também a descongelar a geladeira e agora entendi porque a senhora queria tanto uma geladeira com Degelo seco. A máquina de lavar quebrou na semana que a senhora foi embora, mas como minhas unhas estavam feitas, preferi levar a roupa pra lavar numa lavanderia. A máquina foi consertada, e eu continuo usando os mesmo produtos de limpeza que a senhora usava, mas incrivelmente, a roupa de cama, a casa, a nossa roupa não tem o mesmo cheiro. Mãe, o papai suja louça demais, e todos os dias quando chego do trabalho a pia não cabe uma colher de sobremesa. Tô cuidando direitinho dele, alimento ele, passo a roupa dele, cuido pra que ele tome todos os remédios, mas ele tem andado triste. Eu não digo nada, porque meu coração berra que a culpa da senhora ter ido foi dele. Hoje eu acordei com o Theo fazendo cafuné em mim como se soubesse que meu coração de filha estava em frangalhos. A gente se olhou sem dizer nada por uns 20 minutos e eu chorei, mãe. Os domingos eram tão nossos. Acordar com os gritos e risadas do Miguel, o papai mexendo em alguma coisa que faça muito barulho pra acordar a casa toda, a senhora fazendo café da manhã. Chorei tanto, e o Theo perguntou o que eu tinha. Mãe, meu filho de dois anos foi meu ombro hoje pra que eu chorasse a tua falta. “Saudade da minha mãe, filho”. A casa vive em um silêncio ensurdecedor. Mãe, apareceu um cara legal. Ele é um amigo de muitos anos atrás, e se não fosse ele, acho que a tua ausência seria ainda pior. Ele é incrível, sensível, gentil, lindo, bem família, tem foco na vida. Acho que a senhora vai gostar dele. Ele apareceu na hora certa. Mãe, eu não te culpo por ter ido, a senhora merece mais do que ninguém ser feliz. Dói muito a saudade, dói não te ter aqui todos os dias. Dói sermos só eu e Theo. Mas mesmo entendendo, tem uma pontinha de magoa no peito. Tem muita coisa aqui dentro, muitos sentimentos que eu não consigo contextualizar, mas enfim. Saudade. Te amo.

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